quarta-feira, 21 de março de 2012

Neméria e Jesus

Escrevi esse texto em 14/07/2011, após ler "Há Dois Mil Anos". Numa doce inspiração, gostaria de dividir esse pequeno conto com vocês, amigos de jornada.



Ao longe se observava uma multidão aglomerada e volumosa. Neméria passava tentando desviar suas vestes luxuosas daqueles maltrapilhos que a cercavam. Fora ao mercado porque era extremamente necessário para ela encontrar unguentos que a sua escrava dissera que afastariam a velhice.  Aos vinte anos a preocupação com a velhice deveria ser apenas uma cogitação futura, mas a vaidosa patrícia romana, passando uma temporada na Galileia com a sua família tinha necessidade de cuidar de suas futilidades.
Porém, uma voz suave e branda envolveu os pensamentos da jovem vaidosa. Ela olhou para os lados e viu que a voz vinha do meio daquela multidão de maltrapilhos. Fez sinal para que suas escravas lhe seguissem e uma delas lhe disse.
- Senhora, os unguentos ficam para lá.
- Calada e me siga.
Aos poucos , sem se importar se suas luxuosas vestes esbarravam nas vestes maltrapilhas dos miseráveis que estavam ali, Neméria ia adentrando a multidão que estava parada para ouvir um homem. A moça chamava a atenção com suas vestes finas no meio de todos, mas ela estava tomada de um imenso magnetismo que fluía da voz daquele singelo homem que falava com a maior brandura de seu coração.
Ela parou e observou. Ele tinha uma beleza modesta e iluminada, os olhos muito puros, fitando os primeiros raios do crepúsculo que surgiam. A barba no rosto simples e os cabelos muito macios e brilhantes cobriam-lhe os ombros. Havia uma paz em seu sorriso terno e uma  misericórdia imensa em casa olhar daquele pobre homem que usava apenas uma túnica modesta, porém muito limpa.  Ao redor dele estavam os páreas da sociedade, prostitutas, velhos centuriões deserdados, mendigos, maltrapilhos, crianças famintas, famílias pobres e todo o tipo de gente coberta pelas chagas do esquecimento e da pobreza. Nas palavras daquele homem puro, simples, verdadeiro e iluminado eles encontravam o pão de suas pobres almas caídas e esfarrapadas. Nos seus ensinamentos de amor e piedade eles bebiam a esperança de um amanhã promissor, embalados no colo de um Pai de amor, num reino Divino e onde todos seriam iguais perante aos olhos desse pai bondoso e que os amava, mesmo que a sociedade os tivesse esquecido.
E a cada palavra desse homem tão sincero, a cada palavra profunda de amor e caridade que ele dizia, os olhos da jovem Neméria se desfaleciam em lágrimas. O que eram os títulos de sua família, de seu pai, suas jóias e seus poderes sendo que jamais, em sua vida ela teria demonstrado um mínimo sentimento de piedade ou compaixão por qualquer um que fosse?
Sentia sua vaidade ser dilacerada pelas palavras da verdade e da honestidade, sentia-se a última das criaturas, a mais pobre de todas ali, porque sua pobreza era a de espirito.
E aquele homem, aquele homem puro e honesto entendendo que o orgulho e o ego da jovem patrícia havia desaparecido daquele coração pobre e corrompido, olhou-a profundamente e disse:
- Amará a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo.
E sorriu um sorriso singelo, profundo e querido. O magnetismo dele fê-la cair de joelhos e chorar. As servas mal entendiam.
Ele se levantou, abaixou e levantou-a, segurando pelas mãos.
A patrícia orgulhosa agora chorava mais, era apenas uma criança perdida no mar de suas desilusões.
Ele olhou profundamente nos olhos dela e nada disse. Ela, recuperando as forças que haviam restado disse-lhe:
- Tenho muito a aprender sobre o amor.
Ele soltou-a e voltou ao seu lugar. Ela entre lágrimas e sorrisos da alma, beijou-lhe a mão e foi-se embora.
Depois daquele dia a jovem e orgulhosa Neméria nunca mais fora a mesma. Desde o dia em que ela, uma jovem patrícia desorientada, vaidosa e orgulhosa deparou-se com ele, o homem que mudaria toda sua vida, o filho de Deus Vivo na Terra, o Bem Amado, o Filho de Maria, a Luz de Todos Os Tempos. Ele, Jesus. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário